Selecionada pelo edital nacional da Pinacoteca da UFAL, abordou o tema da paisagem, através de uma instalação produzida com imagens e sons colhidos nos inúmeros trabalhos de campo realizados pelo Grupo. Uma coletânea de expressões das várias categorias através da qual se pode acessar a paisagem, com ênfase em faces pouco reconhecidas ou que passam desapercebidas nos movimentos cotidianos. Por esse motivo, a expressão “cidadão de todos os países, derivem”, foi o lema escolhido. A denominação “Gesto” identifica a importância das pessoas nas paisagens.
Texto da curadora:
Na busca que empreendem pelas PAISAGENS BRASILEIRAS PRIMORDIAIS, os integrantes do Taba-êtê do Grupo de Pesquisa Estudos da Paisagem se deixam contaminar pela cultura material do homem do interior, do ribeirinho, do índio, dos que encontram no caminho e enlaçam essas paisagens. Trazem, das viagens, os gestos desses homens simples e, com eles, recheiam pouco a pouco paredes, mesas e gavetas de sua taba, que vem acumulando camadas de trabalhos ao longo dos anos. Não esquecem de incorporar, nessas viagens, o gesto instruído do colonizador que deixa suas marcas em paisagens muito antigas e é o que motiva essa busca.
São estes gestos, o vernacular e o erudito, que se mostram hoje nesta exposição. Eles depõem sobre o olhar de pesquisadores que se lançam constantemente em busca de pistas remotas, em rotas traçadas por antigos viajantes nos séculos XVI e XVII e experimentam estas paisagens em todo seu potencial sensível, com seus corpos. Expõe-se à luz intensa do Nordeste deixando que ela impregne suas retinas, se rendem aos sabores de um modo de vida interiorano que se intercala nos trajetos e, ao chegarem ao destino, aspiram o cheiro úmido das ruínas. Percorrem, passo a passo, esses mapas gastos pelo tempo, como andarilhos, redesenhando-os.
Com isso, além de trazerem à tona documentos preciosos perdidos em arquivos brasileiros e de além mar e descobrir vestígios de antigas ocupações portuguesas e holandesas, eles ressignificam estas paisagens primordiais, amalgamando-as com novos sentidos, os do tempo presente. Isto porque entendem que uma paisagem pulsa, se molda pelo movimento cotidiano dos pés que giram sobre ela justapondo geografia e cultura, valores materiais e imateriais. Assim, nada escapa ao olhar que perscruta cada canto. Mas um olhar que é leve e lúdico, que precisa ser previamente embaralhado para atingir esta condição e deixar para trás velhas chaves de leitura. Mas que, nem por isso, é menos disposto a reescrever a história.
Ao final, misturam tudo, como num bolo de receita artesanal: o que foi, o que é, e traçam organicamente estratégias para o vir a ser, num fazer fazendo. Tornam-se assim, eles mesmos, paisagens.
Prof. Dra. Maria de Fátima de Mello Barreto Campello
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